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Nada é Para Sempre

No começo tudo são flores, até mesmos os defeitos parecem fazer parte de uma magia que encanta. Quando bate diretamente com aquilo que sonhamos como ideal, então o tão desejado “felizes para sempre” nos parece a mão. Mas as pessoas mudam, o mundo muda, o tempo passa, e o tempero inicial pode ser muito indigesto quando usado em excesso. O novo se torna gasto e sem brilho, até a musica da sua vida se transforma em um som irritante e enjoativo. “Blue Valentine” (2010), disseca o frescor e o desgaste de um casal que de tão comum pode ter sido inspirado na vida de qualquer pessoa, até na sua.

De forma muito orgânica, e que muitas vezes se aproxima de uma linguagem documentarista, o diretor Derek Cianfrance consegue mostrar de maneira crua e realista dois pontos chaves de um relacionamento, o inicio encantador e apaixonado, em paralelo uma crise após quase uma década de convivência. Extraindo interpretações sinceras e acima da média de Ryab Gosling (Dean) e principalmente de Michelle Williams (Cindy).

Resumindo, uma garota de suburbio, bela e muito inteligente, sonha em ser médica. Rapaz sem muito estudo, mas com muito potencial e bom coração. Cindy namora ‘o cara’ da escola, porém pouco romântico. Dean trabalha como carregador e sonha encontrar uma garota legal. Em um momento de desilusão dela, eles se conhecem e começam um relacionamento encantador, aparentemente ambos encontram o que faltava tanto nas experiências anteriores como nas histórias dos próprios pais.

Após anos de convivência, as responsabilidades de criar uma filha, manter um lar e pagar as contas, a distância e o desgaste são visíveis. Ele transporta as brincadeiras, as musicas e todo amor para a filha, quase esquecendo da companheira, enquanto ela sente o peso de lidar com o alcoolismo e infantilidade do marido, e o peso de ser boa mãe e boa enfermeira (distante da médica que desejava ser).

Estes extremos expostos acima são tão comuns que poucas pessoas não viveram ou viram bem de perto situações semelhantes. O risco de entrar em velhos clichês é alto,  mas “Blue Valentine” se desenrola no limite e não entra no comodismo das situações simples e de fácil digestão. O paralelo dos diferentes momentos da mesma relação pontuam ainda mais os problemas da mesma, como quando em uma tentativa de aquecer a relação, Dean coloca “a música” do casal que surte pouco efeito para uma noite qeu deveria ser especial, em outra cena o diretor demonstra a ‘primeira vez’ daquela musica para o casal, cheia de emoção, encantamento e romantismo.

Como do veneno que mata também extrai-se o antídoto, por chegar tão perto da realidade, este “Blue Valentine” em certos momentos se transforma em um blue movie, cansativo e angustiante. Com certeza não agrada ao público em geral, justamente por mostrar pessoas comuns em situações comuns (porém muito complicadas), sem príncipes encantados ou carruagens de cristal.

Pra não dizer que não falei das flores, a música do casal é “You and me” de Penny & The Quarters, uma gravação dos anos 1970, esteve perdida por decadas nos arquivo de uma gravadora até ser redescoberta em 2006 e agora atingir o sucesso por causa do filme.

Pra não dizer que não falei das flores ainda, tenho que informar que a campanha brasileira em cima de “Namorados para Sempre” (Blue Valentine, 2010) cometeu erros imperdoáveis. Além de um titulo equivocado, utilizou chamadas puramente comerciais com a intenção de atrair o publico no dia dos namorados do Brasil, mas após dos 114 minutos, alguns casais provavelmente sairam com várias dúvidas se vale a pena continuar o relacionamento.

#por Jonas Ribeiro#

 
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Publicado por em junho 19, 2011 em Sem categoria

 

O Melhor X da Questão

Quem nunca se sentiu diferente? Por um nariz, uma orelha, por ser magro, gordo, pobre, rico, negro, amarelo ou azul? A simples diferença infelizmente gera muitas vezes estranhamento, medo, revolta, segregação, preconceito entre outros efeitos colaterais. Talvez um dos maiores paradoxos da humanidade, pois sabemos que somos iguais e ao mesmo tempo somos únicos, com virtudes e defeitos que nos diferenciam de todos os outros, o problema é quando alguns se acham mais iguais que os outros.

Apesar de algumas vezes as adaptações de quadrinhos conseguirem sequências melhores que os filmes iniciais das séries – caso de “Cavaleiro das Trevas”  (The Dark Knight, 2008) e o próprio “X-Men 2″(2003) de Bryan Singer – sempre que uma continuação é lançada, existe o temor de que algo ruim e puramente comercial está por vir. Tanto que “X-Men 3: O Confronto Final”, aparentemente finalizava a franquia de forma decepcionante, sem Singer e sem brilho.

Mas a trilogia como um todo foi um sucesso, por isso o elenco ficou encarecido por estrelas, resultando na dificuldade em manter o universo utilizando o mesmo elenco – além de do terceiro filme eliminar parte dos principais personagens.  Para dar continuidade a ‘galinha de mutantes de ouro’ , inciou-se uma série de novos títulos.  Wolverine, quase unânime entre os fãs como o personagem mais carismático, ganhou um capitulo fraco sobre sua origem e fez muitos se decepcionarem. Mas “X-Men: Primeira Classe” (X-Men: First Class, 2011) de Matthew Vaughn (diretor do ‘redondo’ e bem construído “Stardust”, 2007) supreende por ser o melhor da franquia até aqui.

Como no ultimo filme do homem-morcego, esta primeira classe ganha pelo ótimo roteiro, que explora muito bem a questão complexa da diferença e do preconceito (tema principal do universo X e muito debatido pela sociedade atual). A construção das histórias de Charles Xavier (James McAvoy) e de Erik Lehnsherr (Michael Fassbender), futuro Magneto, são a base bem estruturada de toda linha narrativa, que utiliza acertadamente acontecimentos históricos reais (II Guerra Mundial e Crise dos misseis entre EUA e URSS nos anos 60), dando um tom ainda mais verossímil para os personagens, que apesar dos poderes mutantes, sofrem psicologicamente e socialmente por não serem considerados normais. Respeitando a trilogia já existente,  as origens distintas dos futuros líderes mutantes justificam suas ações dentro desta trama e dos filmes anteriores que se passam décadas depois. Também convincentes estão Kevin Bacon como o vilão Sebastian Shaw e Jennifer Lawrence (Raven Darkholme / Mística), que é a melhor personificação da questão mutante de aceitação, tanto da sociedade como dela e sua própria natureza.

A grande diferença deste ‘First Class’ é se distanciar do show pirotécnico de computação gráfica que existe em alguns filmes do genero – que se assemelham mais a linguagem de Games dos que de quadrinhos  – e se preocupa em contar um boa história. Os 132 minutos são talhados com pequenos conflitos, onde cada mutante encara de uma forma, tanto a sua mutação, como a escolha do ‘lado’ para lutar em meio a muitas tensões sociais e politicas.

Outro trunfo deste “X-Men” é mostrar claramente que apesar de diferentes, os mutantes são humanos, com qualidades, defeitos, desejos e principalmente são mortais. Em nenhum momento a sensação de conforto existe. O humor dosado na medida certa para aliviar a trama, sem exageros – aliás, outras franquias se perdem tentando agradar ao público adolescente carregando em humor e pirotecnia, abdicando de uma trama mais complexa.

O desfecho mantém o ritmo, justifica aspectos do universo X da franquia, e surpreende quem desconhece a história, por isso agrada aos fãs da primeira trilogia e aos espectadores casuais, possivelmente novos admiradores da escola para mutantes do Professor Xavier.

Pra não dizer que não falei das flores, meu modo de fazer uma crítica é analisando não apenas a obra em si, mas observando o meio, tempo e ao que se propõe a obra analisada. Não teria como fazer uma analise baseada nos quadrinhos da Marvel (isso eu deixo para meu amigo Diego M. Gomes que é especialista e mestre na arte e no universo X-Men), por isso esta humilde análise foi realizada em cima do filme como cinema e nas obras, tanto da franquia, como outras do mesmo gênero.

por Jonas Ribeiro

 
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Publicado por em junho 12, 2011 em All Posts, Coisas de Filme

 

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As Intermitências

‘Saberemos cada vez menos o que é um ser Humano’ – Livro das Previsões – prefácio de “As Intermitências da Morte”.

A literatura muitas vezes nos permite entrar em realidades muito diferentes da que vivemos, por outro lado pode nos mostrar o quanto o ser humano é igual em suas fragilidades, independente do local de nascimento ou qualquer outra variável que a vida (ou a morte) possa trazer.

Saramago em “As Intermitências da Morte” traz uma fábula que se inicia da seguinte forma ‘No dia seguinte ninguém morreu. O facto, por absolutamente contrário as normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, …’. Um dos textos mais inspirados, e com certeza inspiradores, do mestre português, descreve um país fictício, onde a partir do primeiro dia de um ano qualquer, as pessoas param de morrer, por pior que fosse o estado de saúde, mesmo os acidentados, chegam ao limiar, mas não ultrapassam a ultima linha entre estar vivo e estar morto.

O que inicialmente poderia ser a dádiva da vida eterna, logo mostra-se um problema drástico, envolvendo toda a sociedade em dilemas organizacionais, religiosos, morais, éticos, entre outros efeitos. Afinal, o que fazer com as pessoas que não morrem,  e continuam a envelhecer, ou aquelas que estão moribundas, praticamente sem vida, que podem até apodrecer, mas o fim para elas nunca chega.

Os desdobramentos do estado, da igreja, da midia e do povo, além dos poderes paralelos que surgem diante de tal acontecimento, são descritos de uma forma bem humorada, com o sarcasmo bem típico de Saramago. A metalinguagem, os velhos ditados, as reações em cadeia da sociedade são alguns pontos que aproximam ainda mais o leitor desta obra-prima da língua portuguesa.

(Caso você nunca leu o livro, sugiro que não leia este parágrafo) Com o decorrer dos dois primeiros terços do livro, a hipotética “figura da morte” é muito citada, como no senso comum, algo presente mas ao mesmo tempo desconhecido. A partir do momento em que ela aparece como uma personagem, e até com alguns aspectos e características bem humanas, a história muda de tom, com desfecho elegante e genial.

Já em “Maus – A História de um Sobrevivente”, quadrinhos de Art Spiegelman, retrata a passagem de seus pais, judeus poloneses, durante a segunda guerra, onde sobrevive foi um prêmio para poucos. Nesta obra a morte ronda a realidade de forma cruel e aponta para vários questionamentos. Até que ponto a sociedade pode chegar, quais os limites do sofrimento humano? E pior, quais os limites da crueldade de nossa espécie?

A “Não-Morte” remete as catástrofes das civilizações, como vemos literalmente hoje, cidades destruídas pela água, pelo barro e principalmente pela omissão do Estado diante do seu próprio povo, que neste ponto vive dois extremos, os solidários e os egoístas. A Morte latente nos aproxima de questões semelhantes, sempre levando a questão inicial, por mais evoluídos que estejamos tecnologicamente, em meio a tantas vidas perdidas de forma banal, aparentemente sabemos cada vez menos o que é um ser humano, ou melhor, será que estamos cada vez mais distante de ser?

Abaixo, entrevista com o mestre, cada frase tem sentido, faz refletir e merece um texto sobre cada palavra.

Para não dizer que não falei das flores, li pela segunda vez “As Intermitências da Morte” e admiração pela forma “Saramago” de contar histórias apenas aumenta. E a sua relação com “Maus” foi apenas que escolhi, quase aleatoriamente, ler um após o outro.

Para não dizer que não falei das flores ainda vale citar a série de TV “The Walking Dead”, baseado em graphic novel de mesmo nome, aborda um tema ‘noviade zero’ dos “mortos-vivos”, mas consegue manter o suspense e prender atenção. E porque não dizer que também mostra uma “não-morte” interessante e divertida.

Para não dizer que não falei das flores, após longa ausência (justificável) neste espaço, recomeço para que ele não morra. Nos próximos posts vou descrever a viagem que fiz e mostrar um pouco do meu ponto de vista dos lugares que visitei neste pequeno “hiato”.

por Jonas Ribeiro

 
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Publicado por em janeiro 21, 2011 em All Posts, Letras e Palavras

 

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A Morte do Autor?

A autoria, por muitas vezes, deu mais crédito às obras do que por mérito delas em si. Além de muitos trabalhos serem analisados, criticados, idolatrados e até mal-compreendidos pelo “conjunto da obra” do próprio autor. Mas o que fazer quando a mesma origina-se de outra que (teoricamente) pertence a outro individuo? Ou quando a obra é divida em várias etapas, onde vários artistas colaboram para o produto final que possui um pouco de cada e ao mesmo tempo não consegue ter assinatura de nenhum deles?

Um dos aspectos da chamada Hipermidia, é o fator colaborativo de muitos para um objetivo. Podemos citar até a Web 2.0 que também compreende uma autoria colaborativa, vide o próprio Wikipédia, exemplo de  múltiplos autores. Mas justamente no ponto onde a variedade de autores contribui para construção desta mídia, também acarreta em dúvidas sobre sua qualidade e veracidade. Mas esta desconfiança tem fundamentos?

A partir do surgimento da imprensa, a multiplicação da informação e da arte possibilitou a divulgação de uma criação atravessar fronteiras, e a cada nova mídia que a tecnologia nos apresenta, maior o numero de pessoas atingidas e mais rápido é este alcance. Isso acarreta numa rede de influência artística mundial, muito do que era somente apreciado por um publico seleto de uma região nos confins de um pais qualquer, agora pode influenciar criadores e artistas do mundo inteiro.

Discutisse então até onde vai a influência, a referencia, e quais os limites da utilização da obra original na criação de uma nova obra.

Rip – A Remix Manifesto, é um documentário canadense dirigido por  Brett Gaylor em 2009, que utiliza o produtor/DJ  “Girl Talk”, para falar de direitos autorais e musica na era digital. A revolução que o “falecido” Napster causou na indústria fonográfica, para não dizer artística mundial, que muda todo um conceito de mercado, nos trás uma questão filosófica, até onde o autor tem controle sobre sua obra?

Importantes questões são levantadas, como direitos sobre obras onde o próprio autor não se beneficia em nada dos frutos das mesmas, principalmente por ter morrido a quase 70 anos atrás (Existem leis tanto na Europa como nos EUA que dão direitos autorais sobre uma obra até 70 anos após a morte do autor, caso da “Happy Birthday To You” que pertence a Warner Chappell).

Por uma lógica poética e até filosófica, apenas o autor deveria ter direito aos benefícios que sua obra pode trazer. Mas então voltamos ao ponto inicial, até onde o autor é o único responsável pela sua própria obra? E pior! Porque a arte, que teoricamente é criada para sociedade, deve ser taxada, cobrada e usurpada por dezenas de anos, e não entregue ao beneficio cultural da comunidade?

Utopias a parte, Gaylor escorrega quando coloca os remixes de Girl Talk no mesmo patamar de uma musica (teoricamente) criada do zero. Dizer que não existe contribuição artística por parte do DJ seria muito errado, ao mesmo tempo que utilizar-se de trechos de outras musicas conhecidas é pegar “emprestado” toda a conquista cultural e de publico da primeira. Portanto não é legitimo dizer que ele possa utilizar da maneira que bem entende trechos de outras obras sem o mínimo de consulta. Ou é? Como num circulo vicioso, voltamos as mesas questões, até onde aquela musica que foi gravada a 30 anos atrás já não faz parte de domínio publico, porque demora-se tanto para que a arte seja entregue a sociedade e que possamos fazer o que quiser com ela, principalmente criar coisas novas e evoluirmos artisticamente e socialmente?

Em “Remix” deixa-se claro que os direitos autorais, no ultimo século e até hoje, são uma simples desculpa para grandes corporações ganharem (e muito) com a arte de outros. Impérios manipulam a midia, fazem lobby para leis em beneficio próprio e transformam arte um negócio altamente lucrativo.

Interessante é que justamente a tecnologia que permitiu a gravação, estocagem e conseqüente comercialização da musica, agora tira, com o advento das redes que proporcionam a troca de conteúdo sem taxas nem “atravessadores”. Claro que existe ainda uma onda muito forte de corporações que se alimentam do mercado a mais de 50 anos que vão contra isso. A indústria do cinema contra-ataca a chamada pirataria ao utilizar cinemas 3D, mídias com conteúdo em alta definição, entre outros. São armas para retardar o processo de “socialização” de conteúdos.

A comunidade digital, sem bandeira, sem nação, e apesar de tantos nomes, avança quase anônima, tomando a arte de volta sem se preocupar em ter que pagar a conta. Infelizmente a democratização da informação ao invés de expandir o conhecimento e criar uma sociedade mais evoluída, parece atrofiar mentes pelo mundo afora, mas isso já é uma outra história.

Para não dizer que não falei das flores, o documentário é excelente, apesar de muitas vezes tendencioso.  O ponto alto é a abordagem sobre a Disney, que nasceu copiando filmes de sucesso em seus desenhos e atualizando para o cinema de animação, obras da literatura mundial, após criado o império, os mesmos foram ao presidente americano “pedir” para que leis fossem criadas “protegendo” todo o material dela mesma.

Para não dizer que não falei das flores ainda ficam questões importantes sobre esse assunto que rendem teses e discussões:

Se a cultura bebe do passado, por que restringir o acesso, e proibir sua utilização como instrumento evolutivo dela própria?

Metafóricamente falando, não deveriamos ser como pais que criam seus filhos para o mundo, será que a arte também não deve seguir o mesmo caminho?

Afinal, a arte pertence ao autor ou ao agente receptor dela? (Com certeza não deveria pertencer a Warner ou a Disney)

por Jonas Ribeiro

 
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Publicado por em agosto 27, 2010 em All Posts, Coisas de Filme

 

Ao Mestre da Palavra

E agora, para onde vamos? Alguma Ideia?

#por Jonas Ribeiro#

 
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Publicado por em junho 18, 2010 em All Posts

 

Alice, What’s the Matter?

Alice é uma personagem diferenciada. No clássico literário de Lewis Carroll, foi criado um universo onírico, inspirado na ingenuidade de ações e pensamentos de crianças. Os personagens, cenários e acontecimentos são claramente reflexos de pessoas e situações reais, com seus apelos psicológicos, próprios da mente humana. Por isso, esta obra gerou incontáveis estudos, adaptações e inspirou gerações de artistas e pessoas comuns.

A Disney criou enorme expectativa, quando em meados de 2007, anunciou que iria adaptar novamente esta obra literária (já adaptado em 1951 pelo próprio estúdio). Além do fato de utilizar tecnologia 3D de ponta para projeção, as características da filmografia do diretor a frente do projeto de “Alice no País das Maravilhas” (Alice in Wonderland, 2010) não deixavam dúvidas sobre o resultado final. ‘Deixavam?’

Tim Burton é o tipo de diretor que assina tudo o que faz, sempre carregando ao seu lado sua equipe, que vai desde a dupla de atores Helena Bonham Carter (esposa de Burton) e Johnny Depp, ao figurino de Colleen Atwood, além da música sempre composta por Danny Elfman. Estes estavam presentes em filmes como o interessante e bizarro musical “Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” (Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street, 2007) e no clássico moderno “Edward Mãos de Tesoura” (Edward Scissorhands, 1990). Aliás, são justamente figurino e trilha que (além da direção de arte fantástica) dão o apelido para este filme: “Alice de Tim Burton”.

A sensação de imersão num mundo de fantasia, ampliado pela projeção 3D, é indiscutivelmente o ponto alto de “Alice”, o Gato de Cheshire é o personagem mais próximo ao literário e todas as suas aparições são magníficas. Tanto as vozes, o elenco digital, quanto os atores ‘reais’, foram muito bem desenhados e escolhidos, todos passam uma veracidade ao ambiente criado por Tim e sua equipe.

Mas fica a pergunta – Alice, qual é o problema? – Distante de duas refilmagens que, na minha humilde opinião, são erros cinematográficos de Tim Burton – “Planeta dos Macacos” (Planet of the Apes, 2001) e “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (Charlie and the Chocolate Factory, 2005) – pelo simples fato dos originais serem obras que beiram a perfeição, filmes ‘atemporais’, que qualquer ‘releitura’ demonstra-se no mínimo inferior ao primeiro. Inicialmente, adaptar Alice seria um tiro certeiro, até difícil de imaginar outro diretor e momento melhor para uma nova versão cinematográfica, com atores reais em um universo digital.

Novamente pergunto – Alice, qual é o problema? – Justamente o ‘problema’ desta Alice crescida é ‘o problema’ que ela tenta resolver nos 108 minutos de filme. O fator principal que leva Alice de volta ao País das Maravilhas não é nem um pouco maravilhoso. O fato de Alice ter uma idade diferente foi uma decisão acertada por afastar esta versão, em certo grau, do livro e do filme de 1951. Mas o que poderia ser um ‘mote’ magnífico, ‘Alice quase adulta volta a encontrar seres num universo fantástico e onírico de outrora’, com milhares de desdobramentos possíveis, foi pobremente transformado em uma misera história de heroína ‘predestinada’.  Neste momento aproxima-se muito mais de ‘Lewis’, no caso C.S.Lewis e sua obra “As Crônicas de Narnia”, descaradamente inspirada no cristianismo e que utiliza de figuras míticas e folclóricas para contar histórias infantis cheias de heróis com destinos traçados antes de nascerem, muito distante da ‘viagem adulta’ da menina Alice do ‘Lewis’ em questão.

A roteirista Linda Woolverton, responsável por “A Bela e a Fera” (Beauty and the Beast, 1991) e “O Rei Leão” (The Lion King, 1994), demonstra utilizar a cartilha da “trilha do Herói” a risca e nos mínimos detalhes. O que fica é um argumento fraco, com desfecho com ares ‘feministas’ totalmente desnecessários. No ápice do filme, ela parece mais uma ‘Joana D’Arc’ do que Alice (talvez equivocadamente inspirado nesta ilustração presente no segundo livro, mas que nada remete aos temas centrais das duas histórias). Aparentemente a ‘lapidação’ do roteiro não foi bem sucedida, muito diferente dos bem construídos e produzidos pela Pixar, parceira da própria Disney (registra-se que são quatro anos trabalhando o roteiro das animações Pixar).

1865 x 2010

É necessário salientar que a obra de Carroll, com seus 145 anos de existência, é muito rica e permite diversos estudos, tanto pela escrita quanto pelo conteúdo. Lançado em 1865, quando Sigmund Freud tinha apenas nove anos de idade, meio século antes dos Surrealistas, já tratava de questões oníricas e do chamado nonsense. Um olhar superficial para muitos, poderia tratar o livro como infantil, mas as metáforas contidas nos parágrafos de Alice, além das diversas figuras de linguagem empregadas nas conversas da menina com outros seres, demonstram a profundidade do texto e um olhar nos diferentes aspectos psicológicos do ser humano (afortunados os que podem ler o texto original em inglês, apesar de existirem boas adaptações em português).

A comparação (inevitável) entre o livro e o filme, nos traz uma diferença gritante. O primeiro, independe de um motivo central, a cada nova situação que a jovem encontra é um pequeno enredo cheio de humor e profundidade, tanto que o desfecho da história é o menos importante. Já o segundo, baseia-se em uma adolescente frustrada, que ‘busca algo a mais na vida’, que ‘não esta satisfeita com os moldes da sociedade’, e encontra nesta ‘aventura’ o que lhe faltava para se ‘emancipar’ na vida real, chega a ser surpreendente colocarem uma história tão repetida em uma produção milionária de alcance mundial.

1951 x 2010


Se observarmos as duas produções da Disney, existem dois pontos que elas se assemelham muito, guardadas as devidas proporções. Ambas merecem aplausos pelo primor técnico, a animação de 1951 beira a perfeição na arte do desenho animado, os movimentos de Alice são extremamente fluídos. Assim como os personagens digitais da versão de 2010, que dificilmente é possível saber onde começa o real e onde termina a computação gráfica.

Outro ponto importante, é a confusão de personagens dos dois livros que inspiraram os filmes – “Aventuras de Alice no País das Maravilhas” e “ Através do Espelho e o que Alice Encontrou por Lá”. (Diga-se que os livros são diferentes, o primeiro pouco é citado no segundo, com personagens totalmente diferentes sendo o primeiro texto bem superior ao segundo) Em 1951 a primeira parte mostra-se confusa e chega ser entediante, apesar do bom desenrolar do meio para o fim, conseguindo tirar bons trechos da obra de Lewis. Já na ‘Alice de Tim Burton’ o equivoco é muito maior, relações familiares inexistentes, até uma batalha entre baralho e xadrez (coisas bem distintas nas duas obras) chegam a irritar de tanta distância que fica do original. Em certos momentos o filme parece descarregar “detalhes” dos dois livros a esmo, numa tentativa de criar uma história totalmente diferente com personagens que ‘lembram bem de longe’ os originais.

Mas Alice é bom…

Eu gostei do filme. Pode até parecer contraditório, mas a assinatura de Tim Burton consegue ‘salvar’ a produção de um desastre maior. Mia Wasikowska faz uma ótima Alice, sem contar com a brilhante atuação e caracterização de Bonham Carter como Rainha de Copas, além de Johnny Depp que dispensa comentários. O que fica é um enorme pesar, de uma adaptação que poderia ter um roteiro ‘maravilhoso’, digno do texto original, mas que tem muito ‘Disney’ e pouco chá de cogumelo.

Pra não dizer que não falei das flores, ficam questões a serem discutidas: ‘seria medo da Disney de errar, perder público infantil num roteiro complexo?’, ‘Será que ninguém avisou – meu, essa história esta uma @#@#$!-’. Seja de quem tenha sido o erro eu digo: “Cortem a cabeça!”.

Senti muita ‘vergonha alheia’ na cena ridícula da ‘dancinha’ do Chapeleiro. Outro fato quase inexplicável que merecia algumas cabeças rolando. O que deixa entender, após o seu Willy Wonka, é que Burton e Depp tem algum ‘fetiche’ sobre a figura de Michael Jackson. Será!? “Cortem a cabeça!”

Pra não dizer que não falei das flores novamente, essa música que deu o nome ao titulo do post, é de uma banda grunge chamada Terrorvison, uma daquelas “bandas de um único sucesso”, tocou no radio na década de 1990 e o videoclipe esteve nas paradas de sucesso da MTV. Além de ser uma passagem do filme de 1951, onde a Lagarta pergunta para Alice “Qual é exacticamente o seu problema?”

Vale conferir o texto do cineasta  Jorge Furtado “Alice Através do Espelho do Tempo“,  sobre os livros e as adaptações da Disney. O mesmo conhece muito a obra pois já traduziu o texto original para o português.

Algumas versões

Alice de 1903 – É no mínimo engraçado as crianças vestidas de cartas correndo atrás da Alice.

Alice de 1988 – Esta versão stop motion/live action surrealista é um pouco assustadora, dirigida pelo polonês  Jan Švankmajer.

#por Jonas Ribeiro#

 
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Publicado por em maio 11, 2010 em All Posts

 

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O Duplo de Saramago

Teria sido Adão o primeiro a ver sua imagem em algum lago de água cristalina e perceber que sua face estava duplicada no reflexo? Na verdade, Adão já era um Duplo, a ‘imagem e semelhança’ do seu criador. Presente na primeira história sobre a origem do homem, segundo o Cristianismo, a figura do Duplo sempre rondou a mente humana em todas as civilizações e serviu de inspiração para incontáveis fábulas, histórias entre outras expressões artísticas.

Quando a literatura, o cinema, a música ou a psicanálise tratam dos seres idênticos, os sentimentos despertados são geralmente perturbadores, mexendo com diversas  aspirações humanas e análises que chagam até o questionamento sobre a existência, consciência e continuidade da vida em outro ser.

Em seu ensaio “O duplo na literatura: reflexão psicanalítica”, Nájla Assy aponta para autores e obras que através dos tempos utilizaram a figura do Duplo, os quais datam desde sempre. Mahabharata (século IV-V a.C.) livro sagrado da Índia, Shakespeare, Oscar Wilde, H. G. Wells, Robert Louis Stevenson criador de uma do mais famosos casos da literatura “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e de Mr. Hyde” ou mais conhecido como “O Médico e o Monstro”, são alguns exemplos.

Sobre o duplo, Carla Cunha observa seus possíveis significados, segundo Sigmund Freud (1919):

Freud, no seu texto datado de 1919, Das Unheimliche, afirma que o DUPLO, apesar de nos parecer algo de estrangeiro, estranho a nós-mesmos, sempre nos acompanhou desde os tempos primordiais do funcionamento psíquico, estando sempre pronto a ressurgir e provocando-nos uma sensação de inquietante […]. Nesta perspectiva, o DUPLO assume importante papel de mediador entre duas entidades que não são mais que uma. Contudo, de elemento estruturador, que contraria a pulsão da morte, surgindo como um vestígio do Narcisismo primário […].

Tertuliano Máximo Afonso, um pacato professor de história, cuja a vida não seria nota nem de jornal de bairro, tem sua paz quase ‘solitária’ perturbada após assistir um filme onde, um ser exatamente igual a ele, aparece num papel secundário. Atormentado por saber que um outro caminha pela face da terra com a sua cara, não poupa esforços para encontrá-lo e matar sua ansiedade incontrolável devido o fato desta incomum duplicidade física. Não se tratam de gêmeos separados no nascimento, mas sim de dois homens fisicamente iguais, até a voz é exatamente a mesma.

Este é uma pequena sinopse da visão do Duplo que Saramago colou em seu livro “O Homem Duplicado” (2002). Quem já teve o prazer de ler alguma obra deste renomado escritor português sabe que a pontuação de seus textos difere de quase todos os outros escritores que nossa língua mãe já proporcionou. Nunca permitiu que sua obra fosse ‘adaptada’ para o chamado ‘português brasileiro’, o que permite uma leitura ainda mais curiosa por termos e expressões. Aliás, um dos pontos altos desta obra, é justamente a quantidade de ditos populares colocados a prova e expostos pelas personagens e pelo próprio narrador. Este brinca em algumas partes com os pequenos jogos narrativos, demonstrando ao leitor algumas artimanhas literárias para se chegar a alguma idéia proposta no texto. As metáforas criadas por ele, não só neste livro, como em várias de suas obras, são para mim as principais virtudes de Saramago, com destaque para “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995).

Seria demasiado presunçoso da minha parte, tentar traçar as incontáveis características e particularidades dos textos deste Nobel de Literatura, o que posso expor aqui é o fator humanizado dos personagens que rodeiam a questão do Duplo nesta obra. Como qualquer tema curioso, ‘duplicado’ e repetido através da história e que rende até mote para novela(s) global, cair nas armadilhas de clichês para um escritor comum seria muito fácil. Saramago expõe as qualidades humanas (leia-se também defeitos), quando certos fatos inusitados são colocados em meio a homens e mulheres comuns, com seus medos e desejos. O acontecimento por si só já é bizarro, assim como muitas propostas de outros livros dele, por exemplo: “A Jangada de Pedra”, onde a Península Ibérica se desprende do continente europeu e vaga aparentemente a deriva pelo Oceano Atlântico, ou mesmo quando em um país, sem nenhuma explicação, ninguém mais morre no hilário “Intermitências da Morte”.

Indecisos, impulsivos, medrosos, infantis, espertos, apaixonados, invejosos, rancorosos, vingativos, melancólicos, estúpidos, os poucos personagens de “O Homem Duplicado” são demasiadamente humanos. O autor coloca até o dito “senso comum” como um duplo na mente do personagem principal, discutindo suas atitudes e demonstrando um conflito interno de Tertuliano.

O egoísmo aflorado pela existência da possível “cópia”, demonstra um dos paradoxos humanos, a necessidade de viver com seus pares, desde que mantenha sua ‘individualidade’, ou seja, precisa viver em comunidade, mas sente a necessidade de ser único.

Nem sempre as páginas de Saramago são de fácil fluidez para um leitor menos atento, tanto pela forma de escrita como pelos caminhos tortuosos, e até pelos pensamentos aleatórios que personagens e narrador percorrem muitas vezes, extrapolando o plano do enredo principal e muitas vezes “divagando” sobre questões de infinitas particularidades. Para ilustrar isto, em determinado trecho, após uma conversa de Tertuliano com sua mãe, ele relembra uma frase dela: “Não sabemos tudo o que nos espera para além de cada acção nossa, havia dito a mãe, e esta verdade corriqueira, ao alcance de uma simples dona de casa de província (…)” em seguida Máximo Afonso conclui “Cada segundo que se passa é como uma porta que se abre para deixar entrar o que ainda não sucedeu, isso a que damos o nome futuro, porém, desafiando a contradição com o que acabou de ser dito, talvez a ideia correta seja a de que o futuro é somente um imenso vazio, a de que o futuro não é mais que o tempo de que o eterno presente se alimenta.” Pensamento profundo, que permite reflexão e discussão, mas de certa forma aleatório ao enredo principal da trama.

Confesso que a primeira metade desta obra foi até cansativa, pelo esforço de concentração, mas quando as personagens finalmente atingem o ponto de encontro, o que inicialmente era apenas idéias sobre o assunto, muda para acontecimentos sempre curiosos e surpreendentes, e o melhor desfecho de todos os livros que tive oportunidade de ler até agora de José Saramago.

O Duplo: Cinema, alguns clipes de Gondry e um pouco de Surrealismo

Não só pelo número de obras da literatura, mas também pelos filmes, e outras ferramentas de expressão, seria possível escrever uma ‘bíblia’ sobre os trabalhos que abordam o tema do duplo. Seguindo a linha da psicanálise de Freud, que influenciou o Surrealismo, em “A Metamorfose de Narciso”, de 1937, Salvador Dalí tentou recriar as condições do inconsciente pintando o mito de Narciso.

Em alguns videoclipes dirigidos por Michel Gondry, um dos melhores diretores da atualidade na minha opinião, e que livremente bebe na mesma fonte dos surrealistas, a presença do duplo é marcante, como em “Let Forever Be” (1999) da banda Chemical Brothers ou no impactante “Come Into My World” da cantora Kylie Minogue, só para citar alguns exemplos.

Como mostras recentes no cinema que falam do Duplo, podemos citar “O Sexto Dia” (The Sixth Day, 2000), aborda o tema da clonagem e toca na questão Freudiana da tentativa de vencer a morte através do duplo. Semelhante, mas com elenco mais convincente, “A Ilha” (The Island, 2005)  de Michel Bay (acredito que este seja o ponto alto em toda sua cronologia como diretor) tem Ewan McGregor e Scarlett Johansson na pele de clones criados somente para fornecer órgãos para ‘seus originais’. Temos “O Homem Duplo” (A Scanner Darkly, 2006) animação baseada em atuações reais de Keanu Reeves, Robert Downey Jr. e Winona Ryder, onde policiais vivem infiltrados no cambate as drogas, assim como o próprio “Os Infiltrados” (The Departed, 2006) de Martin Scorsese , mas que a questão do Duplo é tratado em um ‘grau’ menor. Tratando do assunto de uma maneira diferente, “Clube da Luta” (Fight Club, 1999), o personagem Jack (Edward Norton), sofre de distúrbios de dupla personalidade, na forma de Tyler Durden (Brad Pitt).

Até os quadrinhos nos fornece personagens marcantes que vivem ‘o conflito’ do duplo em sua trajetória, Hulk talvez seja o maior representante, aparentemente inspirado em “O Médico e o Mostro” já citado aqui. Quem não se recorda do desenho “Liga da Justiça” onde existia uma dimensão onde as personalidades dos personagens eram opostas aos originais. A própria essência dos super heróis, que possuem uma vida dupla, sempre entre a identidade secreta e a imagem pública.

Para finalizar, podemos voltar ao cinema e citar um trecho de “A.I. Inteligência Artificial” (A.I., 2001) quando David (Haley Joel Osment), se depara com outro robô igual a ele, e acaba destruindo-o gritando que ele era único e que não poderia existir outro ‘David’.

Pra não dizer que não falei das flores, o duplo está presente no consciente ou inconscientemente de todos. Olhar-se no espelho e ver a própria imagem todos os dias, já é uma experiência do duplo e pode trazer a questão de “Como seria ver a si próprio por outro ponto de vista?”. Ou mesmo questionar a ‘existência’ e a necessidade de ser único, como a marca da própria digital. A questão de ‘pais e filhos’, ‘mestres e aprendizes’, podem representar aspectos do duplo e a tentativa, segundo Freud, de vencer a maior certeza de todas, a própria morte.

Obs. 1: Agradeço muito a Edimaldia Ferreira, que me apresentou o texto de Carla Cunha sobre os significados do Duplo na época do TCC da Pós, e foi fundamental na construção dos argumentos daquele trabalho.

Obs. 2: Posso ter deixado de lado alguma obra de fundamental relevância sobre o Duplo na história, peço ajuda de todos que contribuam com indicações, comentários e observações sobre o tema.

#por Jonas Ribeiro#

 
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Publicado por em março 22, 2010 em All Posts

 

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A Cure For My Life

“Find a cure for my life/ Oh my god/ Oh you think I’m in control/ Oh you think it’s all for fun/ put a smile on my face/ Put a price on my soul/ Build a wall/ Build a fortress around my heart.” Em bom português poderíamos traduzir como: “Encontre uma cura para minha vida/ Oh meu deus/ Oh você acha que estou no controle/ Oh você acha que tudo isso é por diversão/ coloque um sorriso na minha cara/ Coloque preço na minha alma/ Construa um muro/ construa uma fortaleza em volta do meu coração.” Esses são os versos carregados e cheios de revolta que tornaram Ida Maria conhecida (pelo menos um pouco) em todo mundo.

Quem vê a imagem fixa do link desta música no youtube, e lê seu nome em cima, pode imaginar que se trata de uma bela ‘rapariga portuguesa’, prestes a entoar o mais fino fado. Mas os riffs iniciais de “Oh My God”,  demonstram o puro Punk Rock presente em boa parte das faixas de “Fortress Round My Heart”(2008), o primeiro e ainda único desta cantora nórdica.

Podemos ir mais longe e relembrar que tudo isso começou no inicio da década de 1970 com Iggy Pop e sua banda, The Stooges, e depois deles, Ramones, Sex Pistols, The Clash e se vão mais de trinta anos de três acordes e muita energia. Apesar de nascida em 1984, anos após o ápice do Punk, quando a New Wave ditava o cenário Pop/Rock, Ida Maria demonstra que bebeu em fontes preciosas para desenvolver suas melodias. Talvez os anos que separam Ida do Punk ‘setentista’ apenas retiraram o lado muitas vezes político da época e deixaram apenas o bom humor e a ‘dor-de-cotovelo’.

Nasceu em Nesna, cidade de dois mil habitantes no norte da Noruega, cercada de muita natureza, montanhas, o mar e provavelmente muito frio. Apesar de ser filha de músicos, a influência Rock’n’Roll veio da coleção de discos da casa de um médico onde trabalhou como babá, lá conheceu Jimmy Hendrix, Janis Joplin (quem ela é fã e considera como uma cantora incomparável) entre muitos outros. Aos dezesseis foi morar na segunda maior cidade da Noruega, onde chovia muito, ‘e o que fazer?’ Se trancar no quarto, ouvir e fazer muita música. Algo muito curioso sobre Ida Maria, ela sofre de Sinestesia, uma patologia neurologica, que proporciona a quem sofre dela ter sensações juntas, o que no caso de um pessoa normal teria em separado. No caso de Maria, quando criança, diagnosticaram que ela vê cores quando ouve música: “É maravilhoso” declarou a cantora em entrevista.

O que mais chama atenção em Maria, além dos seus belos olhos azuis, sua estilizada cartola e suas formas ‘rechonchudas’, é o fato de seus acordes possuirem uma explicita emoção que ela coloca em todas as músicas, mesmo em estúdio. Aliás, ela fez questão de regravar e reordenar as faixas do primeiro CD, em entrevista afirmou que a primeira versão estava com muita “maquiagem”, e queria que o disco tivesse “a cara dela quando acorda”, o mais cru possível. Nada mais puro, nada mais Punk. Um bom disco precisa de mais que duas músicas boas, em “Fortress” vale conferir todas, entre elas: “I Like You So Much Better When You’re Naked“, “For Give Me“, “Queen of the World“, “Stella“, “Drive Away My Heart“, “Morning Light” , “Louie” além de “Oh My God“.

Ida Maria demonstra emoção, espontaneidade e muita sinceridade, tanto em suas letras como quando sobe ao palco onde literalmente se ‘descabela’, sempre passando muita paixão pelo rock que parece vir de seu útero.  Carisma e bom humor, também presentes em algumas músicas, demonstram que seu potencial pode leva-la ao topo, caso ela mantenha a qualidade em seu próximo disco, no qual atualmente trabalha.

Site Oficial

Pra não dizer que não falei das flores, citei Iggy Pop por que ele divide os vocais com Maria em uma versão para música “Oh My God”, confesso que gosto mais da versão original. Apesar do peso de suas guitarras (que ela toca também) com levada punk, Ida Maria diz que faz música pop. Vale conferir o vídeo acima de “I Like You So Much Better When You’re Naked”, pela letra ‘sugestivamente’ engraçada, e pelo visual inspirado nas colagens de jornais e revistas, marca registrada do movimento Punk, tão ‘revisitado’ na moda e no design desde então.

Pra não dizer que não falei das flores também, ela ficou mais conhecida na mídia, quando “Oh My God” apareceu no seriado americano “Gossip Girls”. Seu disco foi eleito um dos dez melhores pela revista People em 2009, que chamou sua música de “punk-pop”. Maria declara que esta faixa não é uma blasfêmia, como alguns críticos religiosos chegaram a ‘reclamar’, tanto esta como em ‘Stella’, existe sim uma critica bem-humorada, onde deus é um velho que se apaixona por uma prostituta de quarenta e três anos, ela diz que não é religiosa e acha ‘engraçado’ o fato de algumas pessoas levarem ‘tão a sério’ a religião e suas doutrinas.

Obs.: Agradeço a Stephanie, minha amiga jornalista, que me passou o link dessa cantora quando ainda trabalhávamos juntos: “Você já ouviu Ida Maria?”.

Obs2: Abaixo um ‘rápido e rasgado’ blues acústico que ela canta sobre seus próprios ‘seios’.

#por Jonas Ribeiro#

 
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Publicado por em março 6, 2010 em All Posts, Notas Musicais

 

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Elementar e Além

Seria fácil criar um filme sobre o detetive mais famoso da história, o símbolo maior de toda uma classe investigativa, aquela figura que, imageticamente falando, tem uma relevância maior que o seu compatriota 007. Em tempos de inúmeras séries televisivas com detetives modernos, que usam a ciência, a tecnologia e a inteligência (Holmes?) para desvendar os mistérios quase insolúveis, se alimentar de toda esta mídia, e para não dizer ‘mini cultura investigativa’ criada nos tempos atuais, nada melhor do que o maior de todos para fazer sucesso no cinema. Mas chamaram um tal de Guy Ricthie para executar a tarefa, então o ‘elementar’ foi um pouco além.

Sherlock Holmes foi criado no final do século XIX pelo médico oftalmologista e escritor Arthur Conan Doyle. Ele utiliza o conhecimento para decifrar todo tipo de mistério, crime, ‘sapo morto’ ou pessoas que estejam passando na rua. Esta é a principal característica de todos os Sherlocks já criados, desde o original literário até as suas adaptações cinematográficas. Justamente aí esta o fascínio que este personagem exerce em todos, a ‘inteligência aplicada’ inspira e prova como o conhecimento é necessário e encanta.

Quem já assistiu aos excelentes “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” (Lock, Stock and Two Smoking Barrels, 1998) ou a “Snatch – Porcos e Diamantes” (Snatch, 2000) tem idéia do estilo marcante de Ricthie. O slow motion, os pensamentos dos personagens, os closes, a fotografia, o sotaque inglês carregado, os capangas, está tudo em Sherlock, mas não de forma gratuita. Ritchie ‘assina’ o longa sem ser cansativo nem repetitivo, e o ‘respeito’ pela personagem histórica esteve presente em pequenos elementos que, confesso, desconhecia pertencer as histórias do detetive inglês.

Por nunca ter lido nenhum dos seus romances, busquei informações sobre o mesmo, pois a figura é tão marcante, excessivamente repetida e parodiada na história do cinema e TV, que até acreditava já ter assistido a muitas de suas tramas. Na verdade, “O Enigma da Pirâmide” (Young  Sherlock Holmes, 1985), reina quase que absoluto em minha memória, onde o diretor Barry Levinson também fugiu do óbvio e magistralmente colocou as figuras de Sherlock e o Dr. John Watson na adolescência.

Fui novamente surpreendido, ao descobrir que seu ‘ar arrogante’ não é somente fruto da boa interpretação do Robert Downey Jr., muito menos seu violino presente em muitas cenas, ou até mesmo a luta por uns trocados (o Holmes original lutava box). Tudo faz parte da personalidade criada na palavras de Doyle no final do século XIX e sempre narradas pelo Dr. Watson, amigo inseparável de Holmes (mesmo quando não deseja), facilmente incorporado por Jude Law. Não sei se faz parte dos livros, mas a bela Rachel McAdams está perfeita na papel de Mary Morstan, assim como todo o elenco, muito bem escolhido.

Juntando todos os pedaços deste intrigante texto, “Sherlock Holmes” (2009), não abusa de suspense, aliás, poucos mistérios estão suspensos no ar, os elementos são apresentados sem muitas ligações aparente, em meio a muita ação e humor inteligente/sarcástico, Holmes decifra os enigmas ao decorrer da trama. Diversão garantida por Guy Ritchie, que conseguiu respeitar, não só a personagem central e toda sua história literária como principalmente o seu próprio estilo de fazer cinema.

Para não dizer que não falei das flores, preciso salientar a belíssima fotografia assinada por Philippe Rousselot, é um espetáculo a parte, desde os créditos iniciais, até os marcantes e estilizados créditos finais (que valeram o ingresso para mim). Os tons cinzas de uma Londres em construção, os elementos sombrios e as ruas úmidas são alguns dos detalhes que impressionam e servem de excelente pano de fundo para toda a trama de “Sherlock Holmes”.

Para não dizer que não falei das flores também, “O Enigma da Pirâmide” marcou muito minha infância/adolescência. Talvez pela proximidade da idade dos personagens com meus poucos anos de vida, ou mesmo pela trama inteligente e misteriosa. Só para enumerar alguns filmes do diretor estão: “Bom Dia, Vietnã” (Good Morning, Vietnam, 1987), “Rain Main” (1988), o fantástico “Mera Coincidência” (Wag the Dog, 1997).

Em tempos que as ‘sociedade secretas’ estão na moda, um trecho de “Enigma”.

#por Jonas Ribeiro#

 
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Publicado por em fevereiro 20, 2010 em All Posts

 

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80 Anos Inesquecíveis

Existem trabalhos que pelo próprio termo “trabalho” associamos justamente com algo que exige muito esforço, de muitas dificuldades e cheio de problemas que devemos resolver. Mas que graça teria a vida se não fosse essa “ação dramática” que enfrentamos todos os dias?

O filme de animação “80 Anos Inesquecíveis” foi realizado num período ‘quase insano’ de um pouco mais de dez dias, sendo que a narração foi passada para mim, menos de uma semana antes do final do prazo de entrega. Afinal era aniversário da Vovó Bibi, personagem central da história, e não poderia ser postergado.

Devido ao prazo muito apertado, não foi possível realizar algumas adequações, como a locução que estava em um volume baixo e um pouco lenta, inserção de uma trilha sonora, além de alguns elementos que seria interessante acrescentar em algumas cenas.

Segui o roteiro defino (um texto muito bem escrito e narrado pelo neto Vitor e pela Carol, a cliente). Não tivemos como fazer alterações, mas o resultado me surpreendeu positivamente. Foi muito legal desenhar tudo na tablet, e depois passá-lo para o Flash, inicialmente achei que faria tudo a lápis e scanear, mas logo esse processo se mostrou demorado e improdutivo. A idéia dos desenhos era o estilo ‘tosco’ mesmo, para manter o tom de humor do filme. Infelizmente o Vovô Celso partiu um ano atrás, e um dos pedidos da cliente é que o vídeo tivesse uma cara leve e descontraída.

Aumente o volume  e curta este humilde ‘curta’ com a bela trajetória de Vovó Bibi e sua família:

Pra não dizer que não falei das flores, não conheço pessoalmente nenhum dos personagens, mas é muito interessante descobrir a história de uma pessoa que aparentemente teve uma vida muito intensa e criou uma família, no mínimo, muito bem humorada. Não posso deixar de dizer que foi um prazer realizar este ‘trabalho’, que a satisfação de desenhar e animar para mim não tem comparativos.

#por Jonas Ribeiro#

 
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Publicado por em fevereiro 6, 2010 em All Posts

 

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